Rafael Rodrigues - Morar Piauiense

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MORAR PIAUIENSE 

RAFAEL RODRIGUES - @rafaelrodrigue 

BIZET CASTRO - SUZANA COSTA

 

Encontros são sempre uma surpresa, ainda mais quando eles acontecem justo na conta excepcional de um ano bissexto. Foi numa manhã de 29 de fevereiro, que Bizet Castro e o amigo e arquiteto, Rafael Rodrigues, receberam Suzana Costa para um café desafio. Arquitetura, poltronas que escutam demais e varandas teceram os fios de uma conversa bem servida de gelatina à Whisky. O combinado que uniu convidados tão especiais foi um: a casa. Aquela que se torna expressão do “Eu”, o nosso morar piauiense. Mas como toda boa prosa tem um ponto de partida, essa conversa começa com uma boa dose de alegria e outra de whisky. Assim, de forma inusitada, Dona Bizet recebeu Rafael e Suzana às 10 horas da manhã. Mas tinha uma história. Uma vez, quando visitava uma amiga próxima, também pela manhã, ela foi surpreendida com o mesmo convite. Questionada por Bizet “E você toma Whisky pela manhã?”, ela respondeu logo: “Tomo para abrir a natureza”. E assim começamos nossa conversa, “abrindo a natureza” e as boas memórias. 

 

QUEM É O RAFAEL RODRIGUES?

 

RAFAEL_ Sou picoense. Nasci em Picos e morei lá até os meus 24 anos. Sou filho de artesão e de professora. Ele trabalhava com artesanato e minha mãe era professora. Nossa educação sempre foi muito voltada para valorização do estudo. 

Resolvi fazer uma faculdade de arquitetura quando já estava com 24 anos, então já era uma coisa que estava bem amadurecida. Eu sempre tive aptidões por Artes por manuais, pelo desenho. 

Sou arquiteto formado pela Universidade Federal do Ceará que foi na mesma época que começou o curso de Arquitetura em Teresina. Mas como já tinha irmãos morando em Fortaleza, fui para o Ceará. 

Mas nunca saí do Piauí na verdade. São quase 25 a 30 anos de formado e trabalho muito com arquitetura a parte de residência. Teve um determinado momento da minha profissão que fiz especialização em arquitetura de interiores e iluminação. Percebi que não tinha como parar por aí, tenho que ir desde o tapete até a mesa posta porque não adianta fazer só o projeto de arquitetura e deixar por conta da pessoa. 

 

 

COMO ERA A CASA DOS SONHOS DO RAFAEL CRIANÇA?

 

RAFAEL_ Muito espaço, pouco móvel. Digo que eu nem sonhava, mas tinha essa liberdade de ter espaços livres. Sou hiperativo, com TDHA. Vivia correndo, rodando. É como se eu estivesse criando cenários a vida inteira. Quando eu era criança, eu entrava para debaixo de uma mesa e criava um circo. Fazia uma rede de trapézio e ficava criando esses cenários. O meu grande prazer de infância era brincar com algo onde eu pudesse montar esses cenários. Quando terminava de montar, parecia que a brincadeira acabava. 

 

HOJE COMO É A CASA DO RAFAEL ,O QUE ELA DIZ SOBRE VOCÊ? 

 

RAFAEL_ Tem uma palavra que não sou eu quem falo, mas 90% das pessoas que visitam a minha casa: aconchego! 

Acho mais fantástico isso porque é uma casa que ela vai se montando aos poucos. Nossa casa tem quase 30 anos e ela já tem uma história. Nós não percebemos as mudanças acontecendo, mas quando a gente pega fotos e vídeos, vemos que vamos construindo a nossa história. Um objeto que fica ou que sai. Muda-se um revestimento ou um piso. Está sempre em transformação, não só de coisas da casa em si, mas a nossa vida se transforma com o tempo. 

Por exemplo, a gente tinha um quarto que funcionava como ateliê, mas por estar sempre na área social a gente colocou o computador na mesa. Hoje esse computador nem existe mais. Agora deu lugar para uma vitrola com meus vinis, com uma cadeira que eu gosto de sentar e que eu chamo de meu canto. 

 

QUAL AMBIENTE DA SUA CASA É O SEU MAIS ÍNTIMO?

 

 RAFAEL_ Tenho dois. Uma poltrona que eu me sento, depois do café, para ouvir uma música ou ler mensagens, para fazer uma leitura, para pensar. O outro momento muito íntimo é a minha varanda onde eu tenho uma rede. Ali, posso tocar um violão, posso fazer uma leitura, eu pego o celular para fazer uma pesquisa e é um lugar de relaxamento. 

Gosto de ficar ali e programar o que vai acontecer na minha vida dali pra frente, aquilo que está mais forte na minha cabeça naquele momento. Então, tenho esses dois espaços que acho que são meus são mais íntimos. 

 

SE ESSA CADEIRA FALASSE, O QUE ELA FALARIA?

 

 RAFAEL_ Ali estão meus grandes momentos de pensamento mesmo. As minhas decisões são tomadas lá, ouvindo música. é como se fosse meu trono. Ela fala bastante. Ela diria que ele [Rafael] é um batalhador, que ele vive muito à vontade. Que vivo muito todos os momentos. Não vivo para ter um futuro melhor, vivo para ter um presente. Vivo agora! 

 

 

QUAL A PLAYLIST DESSA CASA?

 

RAFAEL_ Músicas que falam na natureza, que falam em arte, nas mudanças das cores do dia. Essas músicas me prendem muito e me chamam muita atenção. Acho que uma música como Varanda da Céu. Ela fala das Ipomeias, do céu neon que é o entardecer. Então, ela fala de todas essas transformações e da beleza que é o dia e a natureza. 

 

 

TEM ALGUM OBJETO OU PEÇA DE ARTE QUE TENHA UMA RELAÇÃO?

 

 RAFAEL_ Gosto de tanta coisa que eu não seleciono nenhuma como principal. Cada uma tem seu valor individual. 

 

 

VOCÊ TEM UMA CASA DE PIAUIENSE QUE MORA NO CEARÁ, O QUE É ESSA CASA DE PIAUIENSE?

 

 RAFAEL_ Sim, você sente na hora. Nós temos até uma denominação da Varanda que é a “calçada”. Morei a vida inteira em Picos, naquelas casas mais antigas que não tem varanda e assim todos os encontros com amigos ou familiares era na calçada. Era o lugar mais agradável. Então é a nossa varanda. A gente fica mais à vontade. 

 

SE SUA CASA TIVESSE UMA MÁQUINA DO TEMPO PARA ONDE ELA TE LEVARIA?

 

 RAFAEL_ Ela é muito atual. Não no sentido de ter alguma coisa moderna só, mas no sentido de ter aconchego, história. Há muito tempo a gente já ficou preocupado com energia uma energia renovável, energia solar, de trabalhar essas coisas dentro da casa, em respeito com a natureza também. Então, acho ela atual nesse sentido não no sentido de ter uma coisa completamente Highlight ou tudo automatizado. Não acho ela contemporânea nesse sentido, mas na maneira de viver que eu acho que as pessoas têm que ter de curtir a casa. Acho isso muito atual. 

 

COMO VOCÊ VIVE A SUSTENTABILIDADE DENTRO DE CASA? 

 

RAFAEL_ A gente se preocupa com sustentabilidade desde o início de um projeto. Você ter mais luz natural, mais circulação do vento para se gastar menos energia. Isso em todos os aspectos do projeto e no físico. Esse equilíbrio entre a energia que a gente gasta e o planeta. A sustentabilidade vem a partir de um móvel que a gente escolhe e se preocupa em como é que foi feita aquela madeira. A sustentabilidade está em tudo. Devemos estar atentos a esses detalhes pequenos. Na maioria das vezes, a gente tem que chegar para o cliente e ir convencendo aos poucos. 

 

COMO VOCÊ PERCEBE O DEBATE SOBRE CONSUMO CONSCIENTE NA CABEÇA DOS CLIENTES?

 

 RAFAEL_ Na maioria das vezes, a gente tem que chegar para o cliente e convencêlo aos poucos. Nós projetamos com a ideia [de consumo consciente] mas, na hora da conversa, o cliente não entende. Por exemplo, o vidro é uma matéria que gasta muita energia para ser fabricado. Nós temos que pensar no que se gera de impacto. Procuro trabalhar menos com alguns materiais que consomem muita energia para serem fabricados.

 

HOJE É MUITO IMPORTANTE TER TECNOLOGIA NOS SEUS PROJETOS? 

 

RAFAEL_ Também como sustentabilidade, deve estar desde a base. Hoje, com aplicativos, você consegue fazer uma irrigação de um jardim. E se for chover, só clico no aplicativo. Se eu quiser acender uma luz, abrir uma cortina, agora eu programo isso. Programo para a cortina abrir às 7h30 da manhã. Isso também vai para sustentabilidade porque eu estou economizando energia, água… 

 

FALANDO DE FUTURO, O QUE SERÁ O FUTURO DESSAS VIDAS QUE ACONTECE DENTRO DESSAS CASAS? 

 

RAFAEL_ Às vezes me assusta, porque tudo está indo tão rápido. Estou meio assustado com o futuro com essa história da Inteligência Artificial. Antes eu conseguia prever o que ia acontecer nos próximos 10 anos, mas juro que agora eu não consigo saber o que vai ser. Para o futuro do design, eu penso no respeito no respeito aos materiais. Penso no que aquilo vai causar. Outra coisa que a gente não pode esquecer é a arte. E a ligação com os nossos antepassados. Não se pode viver separadamente. Viver está ligado ao que a gente viveu no passado e o futuro não está sozinho.

 

 A CASA É A EXPRESSÃO DO QUE A PESSOA É A HISTÓRIA DE QUEM VIVE NELA 

 

RAFAEL_ Aqui está o nosso trabalho. O espaço é individual. Quando a casa é para uma família grande, ela é um conjunto de coisas e aquilo ali é como um cenário. A casa é como se eu tivesse um cenário de toda a vida das pessoas que estão ali em conjunto. Temos que respeitar muito a pessoa, a família. E orientar para que nos próximos 5, 10, 15 anos ela esteja vivendo bem naquele projeto que foi pensado na época. Sei que vai ter transformações, mas tenho que me programar. 

 

O QUE A GENTE PODE ESPERAR DO AMBIENTE DO RAFAEL RODRIGUES NA CASACOR? 

 

RAFAEL_ Fiz uma retrospectiva rápida aqui do que a gente conversou. Um dos ambientes mais importantes da casa é a varanda. Eu escolhi este ambiente porque o piauiense é muito acolhedor. Então, a varanda é um lugar que você recebe um amigo para conversar. É um espaço que você usa também para um momento como este em que nós estamos. Tem um café, uma mesa e conversa mais despojada. Crie algo parecido com tudo que eu falei aqui pra gente apresentar na CASACOR Piauí. Eu trago muito sentimento e também de objetos que eram da minha avó. Pronto, está respondido. O spoiler é esse. 

 

SAINDO UM POUCO DO ROTEIRO QUAL A EXPECTATIVA PARA CASACOR PIAUÍ? 

 

BIZET_ A nossa expectativa sobre a CASACOR é muito alta, tendo em vista que em Teresina se faz uma arquitetura muito boa. Nós nos colocamos à disposição com móveis, tapetes, tudo porque sabemos que vai superar todas as expectativas. Eu fiz uma amostra de decoração em 1997 na minha casa no sítio Pitombeira que é uma casa também muito interessante muito com ares Piauiense. Uma arquitetura que não passa porque tem raízes nordestinas e também é contemporânea. Aquilo virou uma CASACOR. Quem veio aqui se impressionou com a beleza do evento. Tínhamos menos profissionais e menos espaços, mas gerou uma visitação intensa. A gente não dava conta da quantidade de pessoas que foram ver a mostra. Acho que será fantástico e vai ser um momento de ver de perto o trabalho de muita gente boa aqui do Piauí. 

 

O QUE A LILIA CASA VAI APRESENTAR NA CASACOR?

 

 BIZET_ Nós nos esforçamos muito para selecionar o que existe de melhor que nós representamos. Jader Almeida, Sérgio Rodrigues, Pátio Brasil. Fizemos um esforço, que não é pequeno, de comprar tudo novo para CASACOR e as pessoas vão se surpreender. Elas verão aquilo que não veem na loja. Vai ser muito além do que já fazemos na loja.

Assista a entrevista completa e divirta-se em nosso canal de youtube:

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